O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesse fim de semana que vai aplicar tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio no país. A medida, que tem como argumento a proteção da indústria nacional, gerou um campo de incertezas no Brasil, que é um dos seus principais exportadores.
No ano ado, o Brasil foi o segundo país que mais vendeu aço para os Estados Unidos, atrás apenas do Canadá, segundo dados de um relatório do American Iron and Steel Institute (Instituto Americano de Ferro e Aço). A entrada de aço brasileiro em solo americano, inclusive, cresceu 14,1% em relação a 2023, de acordo com o mesmo relatório. Conforme um levantamento do Instituto do Aço Brasil, com base em dados oficiais do governo brasileiro, 49% de todo o aço que o Brasil exportou em 2023 foram para os EUA.
Para Jackson Campos, especialista em comércio exterior e Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, o anúncio de Trump traz incerteza para o mercado. “Causa incerteza para todos os mercados, não só o mercado internacional”, afirma. Segundo ele, se a tarifa for efetivada e houver redução significativa da importação de aço do Brasil, isso pode causar um impacto importante na exportação brasileira. “Porque a gente pode procurar outros mercados para exportar, mas isso demanda tempo e requer investimento, então, no curto prazo, isso prejudica bastante a indústria nacional”, avalia.
No entanto, os EUA devem continuar comprando aço de fora. “A indústria americana não é capaz de absorver toda demanda que eles têm interna, tanto que, se tivesse, não importava. É impossível sustentar os Estados Unidos sem importação”, afirma.
Além disso, existem aqueles produtos específicos do aço que não estão disponíveis em outro lugar. E os EUA devem continuar comprando esses produtos. O resultado, caso aconteça a aplicação da tarifa, deve ser um impacto no produto derivado do aço, porque o preço será reado ao consumidor, tanto interno quanto externo.
“Isso vai fazer com que o custo do produto aumente. E, no efeito rebote, acaba aumentando para todos, porque nós importamos produtos acabados produzidos com essas matérias-primas. Nós vamos exportar aço para lá e, os automóveis, por exemplo, a gente importa deles depois, mais caros ainda”, projeta. O impacto também deve ser grande na construção civil, principalmente dentro dos EUA.
Apesar disso, o especialista acredita que há um certo “blefe” na fala de Trump e que essa tarifa não chegará a ser aplicada na prática. “Ele quer falar sobre algo no Brasil que a gente ainda não sabe o que é, né? E ele está usando isso para tentar negociar”, diz.
O coordenador da comissão de Economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec Brasil) também concorda que os EUA não têm capacidade para absorver a demanda de aço no país. “O segmento nos EUA não é tão eficiente quanto em outros países como China e Brasil, pois a indústria de lá trabalha com capacidade ocupada de somente 73%, enquanto outros países têm cargas até superiores a 90%”, diz.
Para ele, ainda é cedo para fazer qualquer análise sobre os efeitos da medida. “Ainda é cedo para termos uma visão mais clara dos efeitos sobre nossas exportações, mas certamente, essa guerra comercial que se avizinha não é boa para o Brasil e para o mundo. Também temos que aguardar como Japão e União Europeia irão se posicionar”, analisa.
Por enquanto, o governo brasileiro diz aguardar uma definição concreta a respeito da tarifa para se pronunciar sobre o assunto. “O governo tomou a decisão de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas, não em anúncios que podem ser mal-interpretados e revistos”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta segunda-feira (10). “Vamos aguardar uma orientação do presidente da República depois que as medidas forem efetivamente implementadas”, acrescentou.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, também comentou sobre os possíveis impactos da tarifa para o Brasil. “O Brasil, historicamente, tem uma relação diplomática e comercial muito boa com os Estados Unidos. Isso aconteceu no primeiro governo do Donald Trump, e diplomaticamente o Brasil acabou se acertando com os Estados Unidos. E nós acreditamos que a mesma coisa será feita”, diz.
De acordo com Leite, a aplicação da tarifa resultaria em menor volume da produção brasileira. “Perder volume significa impactar a competitividade, impactar a produção, os investimentos, e isso acaba, sem dúvida, também trazendo impacto para toda a indústria”, avalia.
Produção de aço no Brasil
Em 2024, a produção de aço bruto no Brasil atingiu 33,7 milhões de toneladas, uma alta de 5,3% em relação a 2023, segundo dados do Instituto Aço Brasil. No mesmo ano, o país exportou 9,6 milhões de toneladas de aço. Já as importações cresceram 18,2% frente a 2023 e atingiram 5,9 milhões de toneladas no acumulado do ano, o que representa o maior volume já registrado na série histórica.