Empreender foi o caminho encontrado pela psicóloga Emanuelle Fernandes, de 36 anos, para lidar com a falta de testes inclusivos nos processos de contratação em uma multinacional com sede em Minas Gerais, por onde trabalhou por mais de uma década. Incomodada com a ausência de exames que pudessem identificar as habilidades cognitivas de pessoas com deficiências (PCDs), decidiu então criar a “diverSCInnova” — uma empresa com foco em soluções íveis para seleção e desenvolvimento de pessoas. “Um candidato cego, por exemplo, não podia fazer o mesmo teste aplicado para um sem deficiência visual. Esse candidato também precisava apresentar laudos sobre suas limitações. Ou seja, era contratado com foco maior nas limitações do que nas habilidades”, conta.
A insatisfação que motivou Emanuelle a empreender se ampara também no estudo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). O levantamento apontou que 76% das empresas utilizam testes psicotécnicos nos processos seletivos, mas nenhum ível para pessoas com deficiência. “Desenvolvemos então um software com testes gamificados, que permitem avaliar melhor o desempenho do candidato. Todo o processo burocrático foi concluído no ano ado e cerca de 200 empresas já manifestaram interesse. Elas entendem que não é correto ‘medir todos com a mesma régua’. A diversidade e a inclusão precisam ser trabalhadas desde a contratação”, afirma.
De acordo com a Pesquisa Diversidade, Equidade e Inclusão nos Pequenos Negócios Mineiros 2025, feito pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), empresas que adotam práticas de diversidade e inclusão conseguem desenvolver um ambiente de trabalho mais acolhedor (47%), fomentam o estímulo à inovação e criatividade (28%), além da redução de conflitos (26%).
“O ESG pode agregar valor às marcas. Vale ressaltar que o número de empresas que têm a sustentabilidade como valor vem aumentando a cada dia, diante do cenário e da consciência dos consumidores, principalmente das novas gerações”, indica o analista do Sebrae Minas, Agmar Campos.
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Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, as ações de inclusão e diversidade podem fidelizar clientes e ampliar o mercado da empresa, proporcionando maior rentabilidade. “Esse é uma tema que faz parte da rotina e das exigências dos novos profissionais. Então quando um negócio sabe utilizar essa pauta, o retorno tende a ser muito favorável, tanto internamente como com o meio externo”, reforça.
Negócio familiar é fonte de renda - Divulgação
Alguns empreendedores usam os negócios para promover reparação histórica, ou seja, diminuir injustiças que ocorreram no ado, é um dos objetivos. “Somos um negócio pequeno, mas que busca inverter essa lógica de que a produção de café é um lugar de negros com mão de obra barata”, relata Alana Peixoto, de 35 anos, gerente de vendas e marketing do Aurora's Café. A empresa teve início no começo dos anos 2000, em Santo Antônio do Amparo, no Sul de Minas. O negócio é gerenciado por três mulheres e a produção dos grãos ocorre no terreno da mesma família. Por mês, são produzidos aproximadamente 80 quilos de café — cada quilo é comercializado por cerca de R$ 90.
Desde 2020, a empresa faz parte de um projeto que exporta parte da produção desenvolvida por famílias negras da região para os Estados Unidos. “O nosso maior desafio é a venda. Muita gente ainda não consome por ser gourmet e preferem os que estão nos supermercados. Então, essa ação foi importante para gerar renda, já que esse é o nosso sustento”, conta a gerente Rosiane Peixoto, de 33.
O negócio familiar é fonte de renda para Alana, Rosiane e uma outra irmã, além dos seus pais. “O nosso objetivo é crescer, estruturar e poder empregar mais pessoas. Quando a gente estiver nessa condição, certamente vamos dar oportunidades para mulheres e pessoas negras, que ainda enfrentam dificuldades no mercado de trabalho”, conclui Alana Peixoto.
A consciência social foi um dos fatores que motivou o professor Matheus Milani, de 31 anos, a se fidelizar com a marca. “O café é majoritariamente produzido por pessoas negras, que trabalham no campo, enquanto o lucro fica com pessoas brancas. Quando você percebe que esse ciclo pode ser mudado, com uma família negra sendo dona do negócio, é inspirador. Ainda que seja uma colaboração pequena, é uma forma de contribuir com a reparação histórica”, destaca.
As experiências frustrantes ao comprar roupas fizeram com que Magda Mendonça, de 50 anos, asse a confeccionar as próprias peças. “Eu tinha dificuldade ao ir às lojas por conta do meu peso. Trabalhava em um comércio de tecidos e ei a comprá-los e fazer minhas roupas. Minhas amigas plus size viram, gostaram e me incentivaram a começar a vender”, conta.
Foi assim que a empresária de Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado, teve a ideia de abrir a loja plus size. “Ter um negócio diverso é de enorme importância, pois mexe com a autoestima de mulheres que antes se sentiam frustradas. Eu mesma me sentia humilhada”, afirma.
A influenciadora digital Ana Luiza Palhares, a Cinderela de Mentira, também tem como base do negócio questionar o padrão que exclui muitas pessoas da moda. “Falar de corpos diversos na moda é falar em dignidade porque todo mundo precisa se vestir. Pessoas gordas existem”, diz.