A história da vacinação no Brasil remonta a 1804, quando a vacina contra a varíola foi introduzida no país. Na década de 1970, o Programa Nacional de Imunização (PNI) ou a coordenar ações em todo o território nacional, o que foi se consolidando sobretudo a partir da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988. Comemorado nesta segunda (9), o Dia Nacional da Imunização é uma oportunidade para relembrar um pouco desse percurso até aqui e apontar os novos caminhos para o futuro.
Se na década de 1990 e início dos anos 2000 o Brasil tornou-se exemplo de vacinação pelo mundo, erradicando doenças como poliomielite, sarampo e coqueluche, em 2021 o país atingiu seu pior patamar de vacinação infantil da série histórica, com cobertura de apenas 71% do previsto, o que começou a ser revertido em 2023, quando atingiu 79%, ainda abaixo dos 95% desejados e que eram usualmente alcançados.
Outro exemplo preocupante desse cenário é a campanha de vacinação contra a gripe, que, em Belo Horizonte, atingiu apenas 51% dos 90% de cobertura almejados. Até o momento, mais de 728 mil doses já foram aplicadas na capital, mas a cobertura entre os públicos prioritários continua abaixo da meta. Entre as crianças pequenas, a cobertura é de 34%; entre idosos, 56,6%; e entre gestantes, 24,7%.
Disponível gratuitamente para toda a população, a vacina pode ser recebida nos 153 centros de saúde da capital, no Serviço de Atenção à Saúde do Viajante e em postos extras, como, por exemplo, no Shopping Oiapoque. Minas Gerais foi o Estado brasileiro que, proporcionalmente, mais aplicou doses da vacina contra a gripe no “Dia D” da campanha nacional, realizado em maio.
Ainda assim, de acordo com o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal de gestantes, crianças e idosos até aqui no Estado é de apenas 41%. Em 2025, a vacina contra a gripe ou a integrar o calendário de rotina do Programa Nacional de Imunizações (PNI), estando disponível durante todo o ano nas unidades de saúde do Estado. A campanha começou em abril, e, no dia 28 do mesmo mês, foi ampliada para toda a população com 6 meses de idade ou mais.
Cenário preocupante
O médico infectologista Adelino de Melo Freire Junior, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, aponta que “estamos vivendo um período de grande circulação de vírus respiratórios, e a Influenza A (responsável pela gripe) tem sido a mais frequente nas testagens, com cerca de 33% de positividade no país”. “A gripe é uma doença que provoca sintomas intensos, como febre alta, dores no corpo e mal-estar significativo. Em grupos de risco, como idosos, gestantes, crianças e pessoas com doenças crônicas, pode evoluir para quadros mais graves e até internações”, alerta o especialista.
Nessa batalha contra o vírus da gripe e outras doenças respiratórias, uma das providências mais importantes seria a testagem precoce, porque ela “permite iniciar o tratamento antiviral nos primeiros dias, o que reduz complicações”, explica Adelino, reforçando que, mesmo diante desse cenário de alta das doenças respiratórias e oferta à toda a população, “a taxa de vacinação contra a gripe segue baixa em Minas Gerais e em outras regiões do Brasil”. Ele salienta que “a vacina é segura, gratuita e reduz significativamente o risco de formas graves da doença”. “É uma ferramenta essencial para a proteção individual e coletiva, especialmente neste período de maior circulação do vírus”, declara.
Segundo o infectologista, o Dia Nacional da Imunização é “uma oportunidade para lembrar o quanto as vacinas são fundamentais para prevenir doenças graves”. “A data ajuda a reforçar a confiança da população na ciência, combater fake news e incentivar a atualização da caderneta de vacinação”. Ele corrobora sua afirmação com dados históricos que comprovam a eficiência dos imunizantes. “As vacinas salvaram milhões de vidas, erradicaram a varíola e reduziram drasticamente doenças como poliomielite, sarampo e meningite. São uma das maiores conquistas da medicina e continuam essenciais para proteger pessoas e evitar epidemias”, salienta Adelino.
Solidariedade é fundamental
A prova mais cabal do que aponta o médico talvez tenha sido a pandemia de Covid-19, que vitimou mais de 700 mil pessoas no Brasil entre 2020 e 2022, a maioria antes da distribuição das vacinas que aram a combater o vírus. A eficiência das vacinas, no entanto, depende não apenas de seus compostos químicos, mas também de um senso de solidariedade na sociedade, o que Adelino explica a partir do conceito conhecido como “imunidade de rebanho”, o que acontece “quando a maioria das pessoas está vacinada e impede que o vírus circule”.
“Isso protege quem não pode receber a vacina, como bebês ou pessoas com baixa imunidade, em tratamento contra doenças agressivas como câncer, por exemplo, e que precisam se submeter à quimioterapia. Quanto mais gente vacinada, menos chance de surtos”, afiança o infectologista. Ele não tem dúvidas de que “hoje, o maior inimigo não é o vírus, mas a desinformação”, o que estaria por trás dos números de baixa imunização no país, revertendo uma história de sucesso em preocupação sanitária.
Na opinião de Adelino, as famosas fake news amplamente difundidas nas redes sociais, muitas vezes por movimentos autointitulados anti-vacina, geram “medo e dúvidas” na população. Para combater isso, ele acredita que “precisamos de uma comunicação clara, campanhas bem-feitas e confiança nos profissionais de saúde”. “Ter a informação correta é tão importante quanto a vacina em si”, defende.
Vacina é para todas as idades
O médico faz questão de frisar que, embora fundamental na infância e nos primeiros dias de vida do bebê, “vacinar não é coisa só de criança”. “Adolescentes, adultos e idosos também precisam se proteger”, destaca. Ele enumera doenças como gripe, pneumonia e HPV, dentre outras, para referendar seu ponto. “Essas doenças podem ser graves em qualquer idade. A vacinação ao longo da vida mantém a saúde tanto individual quanto coletiva”, atesta.
Além da vacinação, ele sugere uma série de medidas importantes que podem ser feitas por qualquer pessoa no dia a dia e auxiliam a manter-se longe de quadros infecciosos. “Higiene das mãos, uso de máscaras quando necessário, ventilação de ambientes e diagnóstico rápido são medidas que ajudam muito. A vacina previne, mas essas ações evitam a transmissão e ajudam a controlar surtos”, detalha.
Adelino sublinha que “se vacinar é um ato de cuidado consigo e com os outros”. “Quando você se vacina, está protegendo também sua família e sua comunidade. Procure sempre informações com profissionais de saúde e fontes confiáveis. A saúde de todos depende das escolhas de cada um”, arremata.
Criado por mineiro, Zé Gotinha virou herói infantil
No ano que vem, um dos personagens mais queridos do imaginário nacional, especialmente entre as crianças, chega à meia idade. O que muita gente não sabe é que o Zé Gotinha, criado em 1986, nasceu do traço e da imaginação do artista plástico mineiro Darlan Rosa, natural de Coromandel, município do Alto Paranaíba com cerca de 30 mil habitantes, onde recentemente foi descoberto o segundo maior diamante do Brasil, avaliado em R$ 16 milhões.
Desde sua criação, o Zé Gotinha se revelou um precioso ativo na luta para erradicar doenças através da vacina, como sarampo, coqueluche e poliomielite. Inspirado numa série sobre locomoção do fotógrafo inglês Eadweard Muybridge, o Zé Gotinha ou de desenho a boneco que recebia pessoalmente as crianças nos postos de vacinação do país, e, em 1994, participou da cerimônia de celebração à erradicação do vírus da poliomielite no Brasil. A partir de 2024, o Ministério da Saúde ou a substituir a vacina em gotas pela versão injetável, garantindo uma maior eficiência do imunizante.