Um homem, uma mulher e um banco. Em comum, eles têm o objetivo de pedir um empréstimo para tocar o negócio. De diferente, eles têm a taxa de juros. A coordenadora do hub de empreendedorismo feminino Moeda de Troca, Lu de Souza, resolveu fazer um teste. “Eu chamei um conhecido, que é sócio da esposa em uma empresa de brindes, para simular um financiamento. Ele saiu com uma carta de crédito de R$ 40 mil aprovada, com juros de mais ou menos 5%. Dois dias depois, a mulher dele foi em outra agência do mesmo banco, com o mesmo CNPJ, simulou o mesmo valor e, para ela, a taxa cobrada foi de mais ou menos 8%”, conta Lu. 

Segundo o estudo “O financiamento do empreendedorismo feminino no Brasil: um panorama do mercado de crédito”, enquanto a taxa média de juros ao ano foi de 36,8% para donos de pequenos negócios, para as mulheres ficou em 40,6%. Os números foram levantados pelo Sebrae nacional, a partir de dados do Banco Central sobre operações realizadas no primeiro trimestre de 2024.

A mesma pesquisa mostra que, independentemente do gênero, as taxas de inadimplência são praticamente iguais: 7,1% para eles e 7,6% para elas. Mas então o que explica essa diferença de tratamento financeiro? “Muitas instituições continuam classificando as mulheres com um risco maior. Isso se traduz em juros mais altos, em exigências mais rígidas e, às vezes, até na recusa do crédito. Um dos fatores é o preconceito, que ainda persiste. Ainda existe uma desconfiança sobre a capacidade da mulher de gerir um negócio e de cumprir compromissos financeiros”, afirma a embaixadora do Sebrae Delas em Minas, Michelle Chalub.

Outra explicação tem a ver com as garantias exigidas. “Com a estrutura social que temos historicamente, normalmente os bens como imóveis e veículos estão em nome dos maridos. Isso tudo impacta os critérios de concessão de crédito”, completa Michelle. Não por acaso, 29% das empresárias mineiras ouvidas em uma pesquisa do Sebrae afirmam ter dificuldade em ar crédito, e 15% não conseguiram por conta do excesso de garantias.

A boa notícia é que já existem algumas iniciativas para tentar corrigir essa desigualdade. Em 2025, o Sebrae melhorou as condições do Fundo de Aval das Micro e Pequenas Empresas (Fampe) para as mulheres. Esse fundo funciona como uma espécie de fiador, oferecendo garantias complementares para o empreendedor que busca um financiamento. “Normalmente, ele cobre 80% da garantia exigida, e o restante tem que vir de quem está solicitando o crédito, que pode apresentar bens, por exemplo. Agora, para as mulheres empreendedoras, o o à garantia subiu para 100%”, explica a analista de serviços financeiros do Sebrae Minas, Débora de Souza.

Segundo Débora, é importante ressaltar que o Sebrae não empresta o dinheiro. “Esse recurso tem que ser buscado nas instituições financeiras conveniadas ao Fampe. Em Minas Gerais, nós temos o Sicoob, o Sicredi, o Cresol, o Banco do Nordeste e o BDMG como operadores do fundo em Minas Gerais”, explica a analista, lembrando que o Fampe oferece um acompanhamento pós-crédito para os empreendedores.

O governo federal também criou uma condição especial para as donas de negócios. Lançado em 2024, o ProCred 360 permite que o empreendedor pegue emprestado um montante equivalente a até 30% do faturamento do ano anterior, com juros mais baixos e prazos mais flexíveis. Só que, se a empresa for liderada por uma mulher, esse limite sobe para 50%. Para ar esses recursos, os empreendedores devem solicitar o crédito diretamente nas instituições bancárias.