O emprego na indústria brasileira recuou 0,2% em abril, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Essa é a primeira queda registrada no setor após 18 meses consecutivos de crescimento. O recuo acompanha a retração de 0,8% no faturamento real das empresas industriais no mesmo período, indicando um possível desaquecimento no ritmo de produção e contratações.
Os dados integram a pesquisa Indicadores Industriais, divulgada nesta terça-feira (10), e mostram que o setor industrial começa a sentir os efeitos de uma combinação de fatores como alta de custos, incertezas econômicas e desaceleração da demanda interna. A utilização da capacidade instalada também caiu, ando de 79,8% em março para 78,8% em abril.
Para o diretor da MPA Automação e Robótica e especialista em desenvolvimento econômico e tecnológico, Hugo Ferreira, o momento requer atenção, mas também planejamento estratégico. “A queda no emprego industrial em abril é um sinal de alerta, mas não necessariamente um indicativo de crise. O setor vem se modernizando e muitas empresas estão ajustando seus quadros para incorporar novas tecnologias e melhorar a produtividade”, analisa.
Segundo ele, parte das movimentações do mercado também refletem uma transição natural em função da adoção crescente da automação e da inteligência artificial nas linhas de produção. “A indústria brasileira está em meio a uma transformação digital. Isso muda a dinâmica da contratação: diminui-se a necessidade de mão de obra operacional repetitiva e aumenta-se a busca por profissionais qualificados, com perfil técnico e adaptável às novas demandas tecnológicas”, afirma Ferreira.
Mesmo diante dos números negativos, a massa salarial real e o rendimento médio do trabalhador industrial registraram leve alta de 0,2% em abril, o que pode indicar estabilidade no curto prazo. No entanto, Hugo Ferreira alerta para os próximos meses: “Se os investimentos em inovação e qualificação profissional não forem acompanhados por políticas de incentivo à produção e ao consumo, corremos o risco de ver uma estagnação mais duradoura no setor.”
A CNI também reforça que o momento pede cautela e acompanhamento constante dos indicadores, já que o cenário internacional e as medidas econômicas internas podem influenciar diretamente a recuperação ou o aprofundamento da queda na atividade industrial.