BRASÍLIA – De um lado do plenário da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) estão os ministros Alexandre de Moraes, relator do inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022, Luiz Fux e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.
De frente, acompanhado do advogado Cezar Bittencourt, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid começou a ser interrogado na tarde desta segunda-feira (9) sobre sua participação no plano de tomada de poder à força para manter o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
“Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, disse logo nos primeiros questionamentos.
Assim como outros cinco dos oito réus, Bolsonaro está logo atrás, a cerca de 5 metros de seu ex-ajudante de ordens que, por ser o réu delator do inquérito, é o primeiro a ser interrogado em uma série de depoimentos marcados até a próxima sexta-feira (13). Por estar preso em uma unidade militar do Exército desde dezembro de 2024, o general Braga Netto será interrogado por videoconferência.
Bolsonaro cumprimenta Cid na chegada ao plenário
Ora com os braços cruzados, ora com a mão direita sobre a boca, Jair Bolsonaro mantém olhar fixo na direção de Cid e de Moraes. Por vezes, coloca os óculos e faz anotações em um papel.
Na sala de audiências em que se transformou o plenário da Primeira Turma, Jair Bolsonaro foi até Mauro Cid e, sorrindo, o cumprimentou com um aperto de mãos. O ex-presidente já estava no espaço quando Cid chegou e ou direto por ele. Essa foi a primeira vez que os dois se viram desde que o militar foi preso em 2023 e delatou a tentativa de golpe de Estado encabeçada por Bolsonaro.
Por determinação da Justiça, todos os réus estão proibidos de conversarem, mas não de se cumprimentarem.
Na fila de depoentes logo atrás estão, da direita para a esquerda do plenário, separados cada um por seus respectivos advogados, o ex-diretor-geral da Abin e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); o ex-comandante da Marinha general Almir Garnier; o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do GSI general Augusto Heleno; o ex-presidente Bolsonaro; o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira; e o advogado do general da reserva Braga Netto.
Mauro Cid era 'braço direito' de Bolsonaro na Presidência
Mauro Cid, militar de carreira e filho de um general da reserva, foi assessor direto de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2022, atuando como seu “braço direito” e tratando inclusive de assuntos pessoais do ex-presidente.
Cid foi preso pela primeira vez em maio de 2023, acusado de envolvimento em fraudes em cartões de vacinação. Após firmar um acordo de delação premiada, foi solto, mas voltou à prisão em março de 2024 por causa do vazamento de áudios críticos ao processo de colaboração. Desde maio de 2024 está em liberdade provisória, com medidas cautelares.
Sua delação tem sido peça-chave para investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada por Bolsonaro e aliados. Um vídeo encontrado pela Polícia Federal mostra o ex-presidente, em julho de 2022, pedindo ações antes das eleições.
Em março de 2025, Cid se tornou réu junto com Bolsonaro, acusado de crimes como tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa e dano ao patrimônio público, podendo pegar até 43 anos de prisão.